Sandro Mesquita
Taça das Favelas II
Sandro Mesquita
Coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) Pelotas e Extremo Sul
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Pegue um sonho e multiplique por 200. Pegue esses 200 sonhos e multiplique por, no mínimo, cinco pra começarmos a matemática. Pois foram pelo menos mil pessoas que passaram no estádio Bento Mendes de Freitas, do Grêmio Esportivo Brasil, no último domingo, quando executamos a primeira peneira da Taça das Favelas/RS em Pelotas. O que, para nós, também foi um sonho, para além do desafio e responsabilidade.
Duzentos jovens realizaram o sonho de jogar em um grande estádio, a maioria pela primeira vez. Desde as primeiras horas da manhã, o sol nem havia saído direito e já havia uma aglomeração na rua João Pessoa. Vários adolescentes em um misto de emoção que nem eles sabiam entender e descrever. Queriam apenas adentrar ao estádio e, quando isso aconteceu, quando pisaram o gramado ainda molhado do sereno, era notório em cada olhar a alegria, a cara de felicidade e o sorriso nos rostos de cada um deles. Pouco faltou pra vermos alguns rolando na grama como crianças.
Parafraseando o Dr. Martin Luther King, "I have a dream!". E esse sonho, de um mundo melhor, passa também por iniciativas e momentos como aquele. Momentos de realização de um sonho, alimentando tantos, vários outros.
Foi um dia diferenciado tanto para os jovens jogadores, como para familiares e pessoas que foram prestigiar o evento e aproveitar o dia de sol, quando passaram todo o domingo longe das suas casas e das suas comunidades onde, muitas vezes, e realidade do dia a dia é muito dura e sofrida. Triste às vezes. Mas, desta vez, estiveram mais próximos do sonho de se tornarem jogadores de futebol e darem uma condição melhor para as famílias.
Mas será que teremos sempre que sair dos nossos territórios, das nossas comunidades, para a realização de um sonho? É uma pergunta. Apesar disso, a vitrine estava pronta. Todos os olhares estavam voltados pra aquele lugar, naquele momento, e isso é o que importa. Fazer o melhor, ajudar a equipe e sair com a vitória, que nesse caso é de todos nós! Dez equipes, 11 jogos, decisão nos pênaltis para que o primeiro campeão da Taça das Favelas, etapa de Pelotas, nascesse.
Foram 300 lanches/frutas, 500 garrafinhas de água, 200 pares de tênis, medalhas, troféus, camisetas da Seleção Brasileira e do G. E. Brasil, consultoria psicológica para a equipe campeã, transmissão, vídeos e fotos. Coisas que nossos parceiros nos ajudaram para alimentar esse sonho.
Um dia intenso que começou antes das 8h da manhã e foi terminar só depois que o sol se pôs, com uma certeza: que a Taça das Favelas, o maior torneio de futebol entre favelas e comunidades da América Latina, veio para ficar, fortalecer e contribuir com centenas de milhares de sonhos que começam e nascem na infância, em casas nas vilas, comunidades e projetos em territórios vulnerabilizados que precisam de um mínimo de infraestrutura para continuar também fazendo a sua parte na construção de tantos sonhos.
Navegantes, Areal, Castilhos, Getúlio Vargas, Santa Terezinha, Colônia Z-3, Barro Duro, Fragata. Algumas das localidades que foram representadas nesse primeiro momento e que desenvolvem seus trabalhos com essa gurizada que vê na bola uma possibilidade de um futuro melhor. Que vê no esporte uma saída e no futebol uma chance de marcar um gol para a vida toda.
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